Em primeiro lugar, você deve achar um lugar o mais escuro possível, totalmente livre de qualquer tipo de luz. Se não for possível achar um lugar com escuridão total, que seja o mais escuro que você conseguir. Dependendo da sua pretensão para a foto, o ideal é que o lugar seja espaçoso e que você esteja usando uma lente grande angular em sua câmera.
Quando achar o local adequado, monte a sua câmera em um tripé, ou deixe ela em qualquer lugar que você tenha certeza de que não vai haver nenhum tremor durante o processo. Para garantir os melhores resultados na exposição, selecione ISO 100 ou a menor sensibilidade nativa que a sua câmera permitir. Selecione também a menor abertura que a sua lente permitir, normalmente de f/16 pra cima.
Você deve estar pensando "Ele enlouqueceu? Como ele quer que eu faça uma foto em um lugar que é totalmente escuro, usando uma sensibilidade ISO tão baixa e uma abertura tão pequena? Não precisa ser um genio pra saber que é óbvio que na foto vai sair só uma tela preta sem nada!".
Normalmente eu concordaria com você, eu estaria ficando louco se dissesse pra você fazer uma foto normal nestas condições, mas não podemos esquecer da terceira variável da exposição: a velocidade do obturador. Aí você pensa "Mas no que isso vai ajudar? O lugar onde estou é totalmente escuro. Nem mesmo deixando o obturador aberto por 1 hora a foto vai sair bem exposta, já que não tem luz nenhuma!".
Novamente eu concordaria com você, se não fosse uma coisa: a intenção do light painting não é a foto sair bem exposta. Agora que você sabe disso, vou explicar melhor. Traduzindo para o Português, light painting significa pintura com a luz. Sabe aquelas telas brancas que os pintores usam? Pense que a tela que você vai usar pra pintar vai ser parecida com esta, só que ao invés de ser uma tela branca, ela vai ser preta, já que você vai usar a área escura que a câmera capta do lugar onde você está como tela.
Já temos a "tela", mas e agora? Assim como um pintor não pinta sem seus pincéis, você também não. O seu "pincel" pode ser qualquer coisa que emita uma luz fraca e concentrada, como uma lanterna comum. Fontes de luz fortes e amplas, como lâmpadas, holofotes e flashes não vão servir, pois estes imitariam a luz de um lugar bem iluminado, que não é o que queremos neste caso.
Qualquer fonte de luz fraca e concentrada pode servir, até mesmo aquela que você nem pensaria em usar. Se você não tem uma lanterna em casa, por exemplo, não tem problema. Celular, eu tenho quase certeza que você tem. Mas não, não é pra passar um trote no seu amigo que você vai precisar dele. A tela de um celular é uma fonte de luz ideal pra isso: fraca e concentrada.
Com o ISO mais baixo o possível e uma abertura bem pequena, é hora de selecionar a velocidade do obturador. Pintores levam tempo pra fazer as suas pinturas, e pra você isso não é diferente. Selecione a velocidade de obturador mais lenta que a sua câmera permitir. O ideal é pelo menos de 15 a 60 segundos, mas se ela permitir de 8 segundos pra cima, já dá pra conseguir um bom resultado.
Se a sua câmera for uma DSLR, você também pode optar pelo modo de disparo Bulb(B), onde o obturador permanece aberto pelo tempo que você manter o botão de disparo pressionado. Só que pra isso, você vai precisar de um cabo disparador ou um controle remoto, já que você vai estar pintando em frente a câmera e portanto não vai poder manter o botão de disparo pressionado, ao mesmo tempo em que pinta. Chamar um amigo ou parente que tenha bastante paciência e mão firme também pode ser uma opção, para que ele faça o papel de cabo disparador.
Se você for usar uma velocidade de obturador entre as nativas da câmera e não tiver alguém que te ajude a pressionar o botão de disparo quando você já estiver a postos, você pode optar por usar o temporizador automático. A maioria das câmeras oferece pelo menos uma opção de 10 segundos de atraso antes do disparo, o que é mais do que suficiente para você se posicionar antes da exposição começar.
Depois de ter tudo programado e definido, é hora de pintar! Quando a exposição começar, fique em frente a câmera com a fonte de luz apontada para ela. Para fazer o seu primeiro teste e entender como a técnica funciona, tente desenhar no ar com a luz algo simples, como círculos. Pegue a sua fonte de luz e gire-a circularmente várias vezes em frente a câmera durante a exposição. Espere até que a exposição termine e vá conferir o resultado. Se tudo deu certo, você deverá ter conseguido a foto de uma tela preta com círculos luminosos. A medida que você for se acostumando com a lógica do light painting, tente fazer desenhos mais longos e elaborados para obter diferentes resultados.
Você deve estar se perguntando "Mas que mágica é essa?". Não é mágica nenhuma, é pura lógica. Enquanto o obturador permanece aberto, o sensor captura todos os raios de luz que incidem sobre a lente. Tudo estava escuro, mas no meio da escuridão se acendeu a fonte de luz que você usou. A câmera sempre procura tentar melhor expor a fonte de luz mais luminosa que ela encontra na cena, e como a fonte de luz que você usou em meio a escuridão foi a única luz que ela detectou, consequentemente foi a única coisa que apareceu na foto.
O sensor captou o local onde a fonte de luz estava em cada fração de segundo enquanto o obturador permaneceu aberto, ou seja, todo o caminho percorrido pela luz foi captado pela câmera e unido em um só momento, uma única foto. Nosso cérebro não é capaz de unir todos os momentos de um evento num só, já que conseguimos distinguir apenas alguns poucos quadros por segundo, mas a câmera é. O único jeito de simular esta situação no nosso cérebro é fazendo algo parecido. Neste mesmo lugar escuro, tente movimentar a mesma fonte de luz de um lado para o outro bem rapidamente e fique observando com os olhos.
Como o movimento com a luz vai ser mais rápido do que a velocidade de quadros por segundo que o nosso cérebro consegue acompanhar, você vai perceber que aos seus olhos, a luz deixa um rastro temporário durante a movimentação. A câmera funciona mais ou menos assim, mas diferentemente de nós, ela sim consegue captar todos os movimentos da luz que aconteceram durante um determinado período de tempo e transformar o rastro temporário em um registro permanente.
Agora que você já conheceu toda a teoria, já deve estar cansado de tanto ler. Vamos a alguns exemplos práticos de light painting.
30s - f/25 - ISO 100 - 26mm - Fonte de Luz: Tela do Celular
30s - f/25 - ISO 100 - 26mm - Fonte de Luz: Lanterna de LEDs
Qualquer coisa que emite algum tipo de luz pode ser usada pra fazer light painting, tudo depende da sua criatividade. Tente com uma lanterna, a tela do celular, um fósforo, uma vela, um relógio com luz, um laser, enfim, qualquer coisa que emita uma luz fraca e concentrada.
Uma fonte de luz que produz um resultado muito interessante é a lã de aço queimando e sendo arremessada pelo ar. Se for tentar fazer isso, pra não se queimar, pegue um arame comprido, com cerca de 1 metro de comprimento. Prenda a lã de aço em cerca de metade do arame com um fio grosso amarrado ou outro pedaço de arame. Quando a exposição iniciar, acenda a lã de aço e gire o arame em círculos na frente da câmera. O resultado deve ficar parecido com este:
72s(Modo Bulb) - f/25 - ISO 100 - 24mm
Mais um exemplo, um pouco diferente:
41s(Modo Bulb) - f/25 - ISO 100 - 24mm
Pra fazer isto, é muito importante que você esteja em um lugar aberto e seguro, que não fique perto de nada que possa pegar fogo e nem ninguém que possa se queimar. Cuidado consigo mesmo também. Não seria nada agradável se um pedaço de lã de aço em chamas caísse no seu cabelo. Pra ter certeza de que nada vai sair errado, você pode colocar um boné e óculos escuros para proteger as áreas mais sensíveis do corpo.
Existem muitas possibilidades de fotos que você pode criar com light painting, o limite é a sua imaginação. Não tenha medo de ousar pra conseguir resultados incríveis!
Até a próxima aula!